Ago 01

A presença de um engenheiro clínico Consultor nos hospitais como estratégia.

Contar com um engenheiro clínico consultor no hospital resolve gargalos importantes na tomada de decisões estratégicas a respeito da infraestrutura tecnológica da instituição de saúde. Ainda assim, este é um profissional pouco absorvido pelo mercado no Brasil.

Por aqui, somente os hospitais universitários, grandes hospitais privados e filantrópicos, além de alguns institutos, possuem um profissional de nível superior à frente da área de Engenharia Clínica. No restante dos casos (que representam uma maioria expressiva das instituições do setor), essa área acaba ficando carente de um profissional de nível tático.

Isso porque, no organograma mais comum, o nível estratégico da Engenharia Clínica é responsabilidade de um gestor geral que faz parte do quadro do hospital. Ele possui nível superior (atendendo à RDC 02/2010) e tem formação e experiência em administração hospitalar. Em situações emergenciais, essa figura aciona profissionais de nível operacional, como analistas de informática ou técnicos de manutenção.

Falta um nível intermediário que cumpra essa função tática. Um profissional que detenha o conhecimento de gestão para dar apoio ao gestor e, ao mesmo tempo, o conhecimento prático para liderar a equipe, motivando-a a aprender e evoluir. O mais comum é que os gestores compartilhem essa responsabilidade com a liderança de manutenção, que acaba sobrecarregada. É nesta hora que entra a figura do engenheiro clínico.

Qual é o perfil do engenheiro clínico?

Antes de tudo, é importante ressaltar que, por questões éticas, esse profissional necessita ser um funcionário do hospital ou uma empresa que oferte apenas a consultoria de forma exclusiva, imparcial e dedicada, visando defender os interesses do hospital. Falamos sobre isso em um artigo que explica como identificar um engenheiro clínico exclusivo.

Esse perfil é muito diferente de um engenheiro clínico de empresa de manutenção terceirizada. Isso porque os dois profissionais têm objetivos opostos.

O engenheiro clínico exclusivo ( Consultor) procura, ativamente, meios de economizar recursos do hospital, criando novas estratégias de manutenção, em diálogo direto com os fabricantes. Assim, busca manter a originalidade dos produtos e investir na resolutividade da equipe técnica do hospital, sem perder de vista o cuidado com a segurança.

Já o engenheiro clínico de uma empresa terceirizada é mais figurativo e ausente, já que o modelo de prestação de serviço de manutenção precisa ser o mesmo para todos os clientes – ou seja, a venda de ‘documentos’ e de ‘peças equivalentes’.

As diferenças também tocam a gestão da equipe de manutenção. O engenheiro clínico exclusivo ( Consultor) é responsável pelo desenvolvimento da equipe interna. Por isso, precisa compartilhar o conhecimento de todas as tecnologias de forma ampla com os técnicos do hospital, dando a cada um deles a capacidade de atender ao maior número de equipamentos possível e incentivando-os a crescer profissionalmente.

Já o engenheiro clínico de empresa terceirizada de manutenção conta com uma equipe muito mais ampla, porém, extremamente fragmentada. Cada técnico faz apenas uma parte do atendimento, limitando-se ao uso de uma ferramenta diferente de teste/análise/simulação. Nessa lógica de “profissional especialista”, os responsáveis pela manutenção dificilmente avançam na carreira. Essa pode ser, inclusive, uma decisão proposital. Tornando o técnico descartável, o engenheiro clínico afasta o risco de que, no futuro, este profissional abra uma empresa concorrente no mercado.

Gestão do patrimônio hospitalar

A visão de gestão do patrimônio também é muito diferente para esses dois profissionais. Um engenheiro clínico exclusivo trata cada equipamento médico como um patrimônio a ser mantido, dentro do escopo definido pelo projeto do fabricante. Seguindo um planejamento, ele determina o custo máximo que aquele bem pode chegar de acordo com os valores projetados no ato da compra.

No caso do engenheiro clínico de empresa terceirizada de manutenção, cada equipamento médico no inventário é uma fonte de peças e oportunidade quase ilimitada de venda de serviços adicionais.

Por isso, o engenheiro clínico exclusivo precisa ser alguém da alta confiança dos gestores hospitalares, que tenha sido formado pela instituição, preferencialmente, vindo do nível operacional para ocupar o tático. Ele precisa estar disposto a se dedicar ao hospital com ética e seus resultados precisam ser periodicamente vistos pelo prisma estratégico e imparcial.

O que o hospital perde sem um engenheiro clínico Consultor?

A terceirização da Engenharia Clínica de forma indiscriminada limita a equipe interna a uma atuação mais administrativa. Fica evidente que, sem uma gestão vigilante, as consequências para o hospital são a atrofia e fragilidade das equipes internas. Isso leva a um alto turn over, o que retroalimenta a contratação de terceirizados. Incapaz de conhecer a fundo os interesses comerciais da empresa prestadora de serviço, o hospital perde valor patrimonial e competitivo de forma gradativa.

O engenheiro clínico Consultor como profissional estratégico

O escopo de atuação de um profissional de Engenharia Clínica é vasto. Para ajudar a identificar as funções que esse profissional deve exercer na maioria das instituições de saúde, listamos as principais delas:

  • Resolve problemas de comunicação entre os diversos profissionais, sobretudo diante de possíveis falhas tecnológicas, dando-lhes maior segurança para prosseguir nos trabalhos diários;
  • Incentiva o crescimento profissional de técnicos;
  • Fomenta que as empresas de manutenção ofertem orçamentos justos e transparentes para maior concorrência;
  • Promove bom relacionamento com fabricantes;
  • Evidencia a responsabilidade técnica abrangente para auditores de gestão da qualidade e vigilância sanitária;
  • Agiliza processos de aquisição de tecnologia de forma transparente e eficaz;
  • Reduz a dependência e abusos de consumo de peças/serviços;
  • Gera valor para a comunidade médica;
  • Traz suporte para as questões jurídicas sob o viés tecnológico;
  • Ajuda o gestor a dissolver cenários de impasse;
  • Contribui para a segurança do paciente;
  • Facilita a seleção e capacitação de recursos humanos disponíveis na região na qual se encontra o hospital;
  • Trabalha a logística de materiais de consumo e a padronização de tecnologias;
  • Atua como representante da direção nas questões de cunho fiscalizador e regulador;
  • Desenvolve soluções adequadas à realidade do hospital;
  • Facilita a obtenção e justificativa de novos investimentos;
  • Contribui ativamente para o crescimento estratégico da empresa frente aos pacientes e ao mercado de saúde.

Créditos: Daniel Moura