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Como identificar um Engenheiro Clínico Consultor?

Como muitos administradores hospitalares já comentam em baixa voz nos coffee break de seus congressos, atualmente, muitas das empresas de Engenharia Clínica no Brasil são revendedoras de peças, prestam serviços alternativos em manutenção e utilizam a calibração de equipamentos médicos como forma de maximizar os lucros com essas atividades. O que só os administradores mais sagazes já descobriram é que existem, embora em menor número, consultores de Engenharia Clínica que são exclusivos de fato no mercado.

Consultores exclusivos são aqueles profissionais que se formaram em Engenharia Biomédica, ou em outra engenharia de base reconhecida pelo sistema CONFEA/CREA, e que possuem especialização (pós-graduação) em Engenharia Clínica em entidade reconhecida pelo Ministério da Educação (MEC). Vejamos abaixo algumas características deles:

  • São micro ou pequenas empresas unicamente de consultoria, normalmente formadas com número reduzido de profissionais altamente experientes, que não fazem manutenção de equipamentos médicos ou revenda de peças. Seus sócios e funcionários não são parceiros ou parentes de empreendedores em manutenção ou calibração de quaisquer espécies e nem contratam profissionais com estes vínculos;
  • Extremamente estratégicos: são tão criteriosos com as informações de gestão da empresa de seus clientes que somente utilizam sistemas de gestão CMMS/EAM independentes e incorruptíveis dedicados à Engenharia Clínica, ou seja, sistemas nos quais os proprietários/investidores/funcionários não são herdeiros ou donos de empresas de manutenção ou de calibração. Desta forma, as informações de gestão são confidenciais, não vazam e não fomentam concorrência desleal na hora de optar/fiscalizar quaisquer empresas de prestação de serviços;
  • Fomentam independência e equipe própria versus terceirização: são profissionais cientes de que uma equipe confiante e crítica pode mitigar a necessidade de troca de peças, estreitar laços com as assistências técnicas autorizadas de cada fabricante e potencializar que os operadores tenham confiança a cada contato com a tecnologia. Dessa forma, formam-se equipes técnicas da própria instituição que passam a executar atividades que antes tinham receio ou falta de conhecimento para tal. Geram economia e segurança para a instituição de saúde;
  • Promovem a fiscalização das atividades de empresas terceirizadas: são criteriosos em consultar e selecionar fornecedores, tendo em vista a maior concorrência possível para fugir de monopólios ou empresas de mesmo grupo, por exemplo. Visam não as características superficiais, mas sim os benefícios reais. Logo, o dinheiro investido em gestão de tecnologias e compras de material é somado aos valores de mão de obra contratados, fornecedores e seus laços são frequentemente analisados, o que agrada aos administradores por conta da maior rastreabilidade dos recursos financeiros;
  • São adeptos de metodologia LEAN: fazer mais por menos é o mantra desses profissionais e, por isso, dimensionam as equipes internas para possuir número menor de colaboradores, porém, mais eficientes e eficazes. Dessa forma, encontram sustentabilidade no departamento de Engenharia Clínica. Tendo em vista que os recursos são escassos, é comum que estes profissionais fomentem modelos diferentes dos tradicionais, como o comodato das ferramentas que utilizam;
  • Estão presentes pessoalmente: é muito raro ver um Engenheiro Clínico consultor presente na instituição de saúde nos casos de outros modelos de prestação de serviços. Com um Engenheiro Clínico exclusivo isso é diferente: ele faz questão de interagir com a equipe de Enfermagem e com os médicos no dia a dia, inclusive, percorrendo os setores mais densos em tecnologia, tais como salas de cirurgia e terapia. Seu objetivo é encontrar situações para exercitar a equipe interna própria em Engenharia Clínica;
  • Verificação de tecnologias médicas de forma independente e abrangente: enquanto empresas de manutenção usam os certificados de calibração que elas mesmas emitem como forma de maximizar lucros em reparos, os consultores exclusivos introduzem a posse (e não a propriedade) de instrumentos de medida para verificar de forma independente e mais abrangente as tecnologias médicas, mitigando gastos desnecessários. Dessa forma, é comum consultores exclusivos apresentarem para suas equipes meios de realizar por si mesmos o controle de desempenho em aparelhos de pressão arterial (esfigmomanômetros), balanças, monitores multiparâmetros, aparelhos de anestesia, ventiladores mecânicos, equipamentos com emissão de raios-x, dentre outros, sem perder a interface com as entidades e órgãos oficiais de fiscalização;
  • São profissionais que começaram na bancada como técnicos: para orientar no detalhe os processos gerenciais e ao mesmo tempo passar credibilidade para os técnicos, os engenheiros consultores já foram técnicos muito habilidosos em seu tempo e hoje são lideranças. Essa história inspira novos profissionais a seguir carreira na Engenharia Clínica;
  • Podem não estar ligados a associações profissionais: embora existam hoje diversas associações brasileiras em Engenharia Clínica ou de Engenharia Biomédica, quase sempre elas visam proporcionar aos associados informações políticas alinhadas com os interesses da maioria de seus integrantes. Como muitos dos associados são empresários focados em revenda de peças ou de serviços de manutenção, nem sempre os consultores exclusivos estarão em sintonia ou de acordo com as ferramentas promovidas pelas associações, apesar de serem conhecidos destas associações;
  • Preferem ser auditados regularmente pelos clientes: enquanto as equipes de serviços técnicos de manutenção tendem a fugir da fiscalização, ao contrário, consultores exclusivos julgam bem vindas a supervisão e a auditoria a cada ação técnica. Eles sabem que trabalham para não perpetuar as falhas, minimizando a reincidência no histórico de manutenção dos mesmos problemas e gerando economia e segurança;
  • Não custam caro frente aos resultados: alguns Engenheiros Clínicos exclusivos já conseguiram converter custos de um único contrato de manutenção em economias de recursos da ordem de pelo menos 75% em quatro meses de atuação;
  • São profissionais que enfrentaram cenários de crise e os superaram juntamente com os clientes: é fácil administrar bem o que está saudável, porém, curar aquilo que está morrendo é tarefa para poucos. Engenheiros Clínicos exclusivos possuem histórico de fazer milagres com poucos recursos e, por isso, são queridos por administradores que têm a missão de restaurar uma instituição de saúde. São facilmente indicados pelos administradores hospitalares após alguns anos de convivência.

Para os administradores hospitalares ou executivos em saúde, deter um consultor exclusivo é importantíssimo para a saúde de suas empresas, até que suas equipes próprias, formadas por funcionários do hospital, estejam proficientes em atuar de forma independente, com grande economia de recursos financeiros e presença para a segurança de todos os profissionais envolvidos.

Créditos: Daniel Moura